Cinema Império (1952-1991)

Imagem noturna exterior do Cinema Império – Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian / Estúdio Horácio Novais

Uma das mais importantes catedrais do cinema em Lisboa, o Império, impunha a sua presença pelo volume e certeira integração urbana. Acompanhava de forma rigorosa o declive da Alameda Afonso Henriques com o desenho da sua imensa escadaria e a enorme fachada envidraçada que permitia, além de colocar o cartaz do filme em exibição, servir de miradouro para o relvado da Alameda. Com projeto inicial de Cassiano Branco acabaria por ser terminado por António Varela, Frederico George e Raul Ramalho e inaugurado em 1952. Eram 1676 os lugares que se distribuíam pelas áreas que se encontravam habitualmente nestas catedrais do cinema construidas nos anos de 1950: plateia, 1º balcão e segundo balcão.

Anúncio à sala Estúdio do Cinema Império

Em 1964 abria ao público o Estúdio, a segunda sala com uma programação mais arrojada. Era frequente nestas épocas o Império receber também espetáculos de música de portugueses e estrangeiros que nos visitavam (Cliff Richard, Quincy Jones), e até acolheu entre 1961 e 1965 a Companhia de Teatro Moderno de Lisboa (com Carmen Dolores e Armando Cortez, entre outros), que arriscou ter uma programação de resistência e vanguarda que contrastava com o marasmo cultural que se vivia.

Manifestação após o 25 de abril com a exibição de filmes anteriormente censurados

O último filme que vi por lá foi “ O Micro Herói “ com o meu irmão e o meu primo. Não me ficou na memória. Provavelmente isso terá acontecido pela minha surpresa perante a escala do edifício com os seus longos corredores, o mural e as obras de João Fragoso que estavam próximo do bar do 1º balcão.

Imagem promocional do filme “ O Micro-Herói” / Inner Space

Mas lembro-me também de outros detalhes. O primeiro tem a ver com a iluminação cénica do interior da sala: as luzes mais intensas a iluminar o teto da plateia de pé-direito mais alto, e as arredondadas, mais suaves no primeiro balcão e na parte mais atrás da plateia. Depois o aviso sonoro de início do filme e de recomeço após o intervalo.

Imagens do interior e do exterior do Cinema Império – Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian / Estúdio Horácio Novais/
Imagens do interior do Cinema Império – Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian / Estúdio Horácio Novais/

Finalmente o cortinado com vários anúncios a lojas e empresas que serviam de passatempo perfeito para descobrir palavras soltas antes do início do filme.Sem esquecer a componente de lazer, o Cine Império acolhia também o enorme Café com o mesmo nome, que recebia atuações de alguns dos principais artistas da época (como Madalena Iglésias e António Calvário). Hoje temos o edifício, mas não temos filmes, nem esferas armilares nem o nome “Império”. Temos a Igreja Universal do Reino de Deus.

Imagens do interior do Cinema Império – Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian / Estúdio Horácio Novais/

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